quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Desafio 3 para alunos do 2.ºCEB

Um dos livros que toda a gente devia ler é o “Pedro Alecrim”, de António Mota. Trata-se de uma obra que nos leva ao Pragal que, mesmo sem sabermos o que significa tal nome, percebemos logo que tem a ver com alguma coisa relacionada com o campo.
Fala de um tempo que já não conhecemos, a chegada da eletricidade, mas que para uma aldeia do interior ainda não foi há muito tempo.
A experiência desagradável da escola, para quem vem da aldeia também está muito presente, com todas as dificuldades próprias, desde a falta de dinheiro dos pais, ao modo se deslocarem e a dificuldade em compreender os professores.
E por fim a inocência de quem é apanhado pela ilusão.
Deixo apenas um cheirinho, para abrir o apetite.

 “Por causa da falta de dinheiro, eu e o Nicolau fizemos uma sociedade que durou três meses. Infelizmente não deu os resultados previstos e agora, quando nos lembramos dessa loucura, dá-nos vontade de gargalhar.

Quem teve a ideia foi o Nicolau. Em meados de Outubro, andávamos já no sexto ano, o Nicolau, depois de muitos rodeios, perguntou-me:

- Ó Alecrim, não queres ficar rico?

Claro que essa pergunta não tem resposta. Quem me dera!

- Tenho andado a pensar e acho que com alguma sorte podemos ser ricos! Bem, não pode ser já, ainda temos de esperar algum tempo. Se tu quisesses, fazíamos uma sociedade... É que para ficarmos milionários temos de gastar algum dinheiro...

Eu não estava a perceber nada, mas agradava-me ouvir aquela estranha conversa.

Sentámo-nos num penedo e o Nicolau, cada vez mais entusiasmado com as próprias palavras, contou-me pormenorizadamente o plano que não havia de demorar muito tempo a pôr-nos a nadar em dinheiro.

- Bem, a nossa sociedade tem de ser secreta, ninguém pode saber. Tem de ser um segredo entre nós, um segredo tão bem guardado que nem a nossa sombra pode saber. Por isso temos de jurar. Juras, Pedro?

E eu, concordando em absoluto com as palavras do Nicolau, jurei de olhos bem fechados e com os dedos em cruz encostados à boca:

- Juro, pelas alminhas do outro mundo, que Vou guardar este segredo. E se falar, ceguinho seja eu!

O Nicolau repetiu as mesmas palavras. E nessa noite, alvoroçado com a riqueza que não tardaria, custou-me a adormecer. Revirava-me na cama e sorria com os olhos fechados. Imaginava o espanto de toda a gente quando eu e o Nicolau anunciássemos com grande solenidade: “Pois é verdade! Nós somos ricos!”.

 Para quem aceitar o desafio de ler a obra integral, não se esqueça depois de partilhar a experiência!

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